Nos finais do século 18, por iniciativa do Capitão Anselmo, instalou-se, na Calheta do Nesquim, a primeira armação baleeira. Desde então, despontou uma das mais importantes actividades industriais que se expandiu por todas as ilhas.
A sua influência moldou a matriz cultural de várias gerações e de milhares e milhares de açorianos, aqui e nas Américas.
A aculturação adveio da luta até à morte entre os baleeiros e os cachalotes, da criação de embarcações adequadas, nomeadamente os botes, as lanchas e respectiva palamenta, e do aportuguesamento dos nomes ingleses.
A expansão da actividade, gerou uma típica indústria naval e a indústria de transformação dos cetáceos em óleo utilizado na indústria farmacêutica e na perfumaria, e das farinhas, em alimento para animais e adubação de terrenos agrícolas.
Toda a actividade baleeira, que Dias de Melo recriou nas suas narrativas, conserva-se viva no imaginário dos picoenses da minha geração. Aprendemos e vivemos algumas estórias trágicas; os nossos ídolos eram oficiais, remadores e trancadores, botes e lanchas que representávamos em desenhos; as nossas brincadeiras simulavam botes e lanchas, oficiais e arpões, baleias grandes e pequenas...
Nos anos 80, quando foi arpoada a última baleia nos Açores, por um bote das Lajes do Pico, foi como se uma parte de nós se tivesse perdido!...
Muitas famílias perderam o sustento, os baleeiros perderam a valentia por afrontarem e vencerem o monstro marinho. Felizmente acabavam as traições e as injustiças, as conversas sobre estórias de bravura e de morte e, no mar, as velas da embarcação mais bela do mundo, não voltariam a flutuar.
Passados alguns anos, as canoas regressaram, felizmente, ao mar. Jovens remadores - rapazes e raparigas, voltaram a saltar para os botes, com o entusiasmo de outrora, para, nas regatas a remos e à vela, atingirem a meta, incentivados e aplaudidos por centenas e centenas de entusiastas.
Da história da baleação, muitos botes foram reconstruídos ou reparados e florentinos, picoenses e faialenses, guardam importantes acervos em muito visitadas instituições museológicas.
Com o desenvolvimento da observação de cetáceos que, nos Açores ultrapassou 40 mil visitantes no ano transacto, é de todo o interesse que as embarcações baleeiras tenham um novo protagonismo. A integração de botes baleeiros no whale-watching que, segundo foi revelado, rendeu aos 19 operadores açorianos 5,5 milhões de euros, deverá constituir um atractivo importante para cativar turistas.
Especialistas mundiais, que recentemente nos visitaram reconhecem as enormes potencialidades com que a natureza dotou todo o arquipélago. Importa, no entanto, que a promoção se faça no seu todo e não, como constatou um operador dinamarquês, apenas sobre São Miguel.
A Região é um arquipélago de nove ilhas e todas devem ser o destino Açores.
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